Forte dos Reis Magos (Natal-RN)

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(Texto de apresentação de Bruna Nascimento Cimbra; texto técnico Prof. Dalton Raphael)

O Forte dos Reis Magos é uma das melhores edificações do litoral brasileiro. Iniciado ainda no século XVI, a edificação remete a um símbolo na história das fortificações da orla marítima do Brasil. A princípio, o forte foi nomeado de Fortaleza da Barra do Rio Grande, mas posteriormente recebeu o nome Forte dos Reis Magos, devido à data do início da sua construção: 6 de janeiro de 1598, dia de Reis, conforme o calendário católico. Fundado oficialmente no dia 25 de dezembro de 1599, o forte é considerado um marco de fundação da cidade de Natal.

Nesse período Portugal ainda fazia parte do Reino da Espanha, compondo a União Ibérica (entre 1580 e 1640), que  teve como grande consequência os ataques promovidos pelos holandeses ao Nordeste do Brasil.

A história da fundação do forte é anterior à formação da cidade e concomitante à colonização Portuguesa. Foi nessa época que Felipe II (rei de Espanha) organizou uma expedição a fim de tomar posse das terras potiguares, hoje Rio Grande do Norte. Para isso os portugueses teriam que expulsar os franceses que estavam em convívio com os povos indígenas naquela região e para essa operação era determinante e fundamental a construção de um forte.

O modelo de construção do forte, típica instalação militar do século XVI, auxiliava em relação à segurança dos portugueses, que estavam em conflito com os franceses e os índios. O desenho original da planta é de autoria do Padre Gaspar de Samperes, mestre dos desenhos de engenharia na Espanha e Flandres antes de entrar para a Companhia de Jesus.

  A configuração atual do Forte, remetendo um polígono de cinco pontas, ergueu-se em 1614, num projeto do arquiteto militar Francisco Frias de Mesquita.

Após uma série de ataques e posteriormente domínio dos holandeses o forte passou, no período de 12 de dezembro de 1633 a Fevereiro de 1654, a ser chamado de Castelo Ceulen (Kasteel Keulen), em homenagem a Matthijs van Ceulen, um dos dirigentes colegiados da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais no Brasil. Após 1654, o forte e a cidade voltaram para o controle dos portugueses.

Desde sua criação até os dias atuais, o Forte dos Reis Magos passou por várias intervenções, ora de natureza física como restaurações e revitalizações relativas à própria utilização. Já serviu como sede administrativa da Capitania, comando militar, quartel de tropas e refúgio de moradores. No ano de 1950, entretanto, ele foi tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A última grande intervenção de conservação foi realizada em 2005, com recursos do IPHAN.
O Forte dos Reis Magos é um monumento de relevância indiscutível para história não só do Rio Grande do Norte, mas também do Brasil.

Situado em Natal (RN), mais exatamente na confluência do Riacho do Sangue e do Potengy com o Oceano Atlântico, bem próximo à ponte Newton Navarro, na chamada Praia do Forte, continuação da Praia do Meio. As imagens abaixo, obtidas através do Google Earth, dão noção exata desta localização. A linha poligonal que circunscreve o Forte dos Reis Magos é irregular, talvez característica advinda da época de sua construção, ainda no século XVI.



Abaixo, dois documentos valiosíssimo. São detalhes de uma reprodução de Franz Post e de uma gravura, nos contam sobre o Forte Ceulen, nome recebido pela edificação durante a ocupação holandesa, iniciada em 1633. Deve-se dar muito valor à imaginação e ao ponto de vista utilizado pelo autor da segunda ilustração, utilizando uma perspectiva aérea, excelente para compreensão utilizada por Câmara Cascudo em seu livro História da Cidade de Natal.

Atualmente o acesso ao forte se dá através de uma calçada de pedras, niveladas e cimentadas, acima do nível máximo das marés, obra tardia, não característica da época da construção.



O pórtico de acesso ao forte é escondido e discreto, de maneira bastante individual, excêntrico. Não possui ponte levadiça, fosso ou outro artificio de defesa a não ser o próprio recolhimento, ocultado atrás da parte curvilínea de um dos baluartes. A Estereotomia do pórtico é em arco pleno de projeto simples e bem decupado, todavia, só as pedras do pórtico se destacam nos revestidos muros caiados. O acabamento exterior bastante rústico pode muitas vezes causar incômodo ao desavisado, uma vez que no século XVI, realmente a mão de obra para tal lavra poderia realmente ser escassa.


Abaixo, aspectos do embasamento em pedras junto à tenalha oeste, aquela à qual se tem acesso mais fácil. Castigado pela ação das águas, naturalmente o embasamento teve de sofrer concretagens, para que se mantivesse estável. A parte superior dessa tenalha oeste é acessada por escadaria e por passadiço, onde se nota diversas ameias. A cortina de pouca inclinação e a gola são elementos que complementam este lado banhado pelo pôr do sol.



Hoje ocupada por uma portaria, a parte interior demonstra, quando se visita, muita umidade, o que é não raro à beira mar. Por dentro o pórtico revela-se até frágil, com a pedra chave deslocada. Já na parte interna, alguns arcos plenos, de exímia manufatura, provavelmente posteriores ao século XVI, podem revelar intenções de mudança na planta original do forte; tal não seria se não nos deparássemos com um arco, que não sustenta nada mais que um pendural ou um pontalete, parte de uma água de telhado que cobre o interior dessa portaria. Neste caso o arco mais funciona como elemento plástico. As paredes voltadas para o interior do forte remetem à técnica de preenchimento denominada canjicado.


Complementando o acesso, uma abobadilha em arco rebaixado pode ser vista especialmente na primeira das fotos abaixo.



Ao centro da Praça de Armas do Forte, há uma edícula, onde no térreo se situa a diminuta Capela, sob uma abóbada de arestas e no segundo piso, cujo acesso é por escada exterior, há uma sala fortificada, onde funcionou o paiol.



Acima, detalhes da capela com as imagens dos Santos Reis Magos: Balthazar, Melchior e Gaspar. Os três estão finamente emoldurados por quatro arcos plenos, em cantaria de excelente qualidade, suportes (ou madres) da abóbada de arestas que sustenta o paiol, em sala fechada no piso superior.


As fotos acima revelam um cuidado excepcional, imenso apuro no acabamento da confecção das aduelas da pequena porta do paiol. No interior, também se pode notar, o piso em tijolos de cerâmica, nivelados e assentados sobre a abóbada de arestas. O paiol é encimado por uma pequena cúpula piramidal de base quadrada. O arremate perimetral é em forma de uma pequena cimalha, com quatro pequenos coruchéus nos ângulos.


Nas imagens anteriores, o aspecto geral das paredes na Praça de Armas é de pobre canjicado misto, no qual as pedras estão entremeadas por blocos de argila. Uma calçada de madeira perimetral foi instalada para auxiliar o trânsito dos pedestres.

Do passadiço superior, junto às tenalhas pode-se observar as guaritas de pobre execução, desfrutar do privilegiado panorama do Oceano Atlântico e ainda da ponte Newton Navarro ao fundo.


Curiosidade: O Forte dos Reis Magos de Natal apresenta a chamada “traça italiana”, que traz as tenalhas arredondadas, conforme figura abaixo, de propriedade da Biblioteca Nacional da França: