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De um modo geral, a Arquitetura Oficial se subdivide em Palácios, Casas de Câmara e Cadeia e Fortalezas. Nesta publicação, iniciaremos pelos Fortes e Fortalezas.
Embora o espanhol Cristobal de Rojas no final do século XVI já houvesse escrito um lindo tratado, a herança maior que nos chega cremos ser através da obra de Sebastien Lepestre Vauban.
FORTES e FORTALEZAS
Em 30 março de 1707 morreu, na idade de 73 anos, Sebastien Le Prestre Vauban, construtor de fortalezas do rei Luís XIV e o mais famoso dos arquitetos militares franceses.
Vauban disseminou o partido arquitetônico que o imortalizaria, inclusive nos fortes e nas fortalezas do Brasil.
Mais de trezentos anos depois de sua morte, Vauban ainda está presente no imaginário coletivo, uma vez que todas as fortificações com baluartes nasceram de sua genialidade. Suas obras construídas (aproximadamente 150) imprimem no território europeu sua marca monumental.
Suas fortalezas, cidadelas, fortes e baterias, uma vez restauradas, foram abertas ao público que pode assim testemunhar o trabalho e a herança do arquiteto.
Essas conquistas, muitas vezes, escondem outros aspectos de uma personalidade excepcional. Conhecido como “O Fortificador”, Vauban desenvolveu a “Poliorcética” (técnica de guarnecer as fortificações com os objetivos de ataque e defesa).
Aos 22 anos de idade, se tornou arquiteto militar especializado no projeto de fortes, fortalezas e cidadelas (como Lille e Philippsburg e Louisville) e aperfeiçoou as muitas técnicas de defesa determinando formas de acordo com a função nas estruturas arquitetônicas, para a eficácia da proteção.
Especialista em projetar fortalezas durante uma longa carreira, naturalmente se transformou em um expert em fortificações e em suas maneiras de defesa.
Teriam os leigos consciência dos motivos pelos quais as fortalezas foram construídas usando formas arquitetônicas geometrizadas?
As fortificações são arquiteturas altamente funcionais, mas estas funcionalidades não são evidentes à primeira vista. Sua compreensão exige uma releitura a partir de uma ótica especializada. Os projetos estavam sempre vinculados a um tipo de artilharia e a um modo de guerrear desaparecidos hoje em dia.
As formas das fortalezas não revelam a sua lógica a não ser que se lhes analise à luz dos métodos de ataque.
Assim, pode-se conhecer os principais componentes dessa arquitetura militar tão especial. Imerso no coração da fortaleza, pode-se ver todos os elementos projetados ou aperfeiçoados por Vauban.
A fortificação antes de Vauban (1450-1680)
Ao contrário do que se pensa, Vauban não é o inventor das fortalezas abaluartadas, mas um de seus maiores disseminadores. Quando o arquiteto começou a construir fortificações militares, estas já existiam na França por um século. Suas origens remontam ao século XVI e decorrem do esforço para se deter os progressos da artilharia que vinham enfraquecendo os castelos medievais e os tornando obsoletos. A nova forma de fortalecer apareceu pela primeira vez na Itália, no século XVII. Naquela época, eram numerosos os arquitetos militares mas o Marechal Vauban superou a todos e levou a arte de fortificar ao seu apogeu, sendo copiado por diversos outros arquitetos que fizeram esta arte chegar até no Brasil.
O Cerco de Brest, pelos franceses em 1386. Pintura ilustrativa (século XV) sobre a crônica de Jean Froissart (1333-1404). A pintura ilustra um manuscrito sobre acontecimentos e sobre a “arte da guerra” na Guerra dos cem anos.
Os castelos medievais evoluíram, em termos formais, para possibilitar a defesa. Na foto acima, Carcassone na França.
O fim dos castelos
As armas de fogo apareceram na Europa por volta de 1320, mas só foram utilizadas contra as muralhas de um castelo meio século mais tarde. O uso artilharia continuou raro até 1420. Esta primitiva artilharia lançava bolas de pedra contra as paredes, também de pedras, e eram menos eficazes que as catapultas utilizadas anteriormente.
A resposta às novas armas de fogo e suas possibilidades, foi a adaptação das estruturas existentes. Nos primeiros tempos os arqueiros foram substituídos por canhoneiros. Combinavam então o arco e a besta com uma arma de fogo; a utilização era em função à operação de recarregar. Obras de terraplanagem e paliçadas eram erguidas em frente aos pontos vulneráveis do castelo, para proteger dos tiros de artilharia. Devido à limitada eficácia das armas foi só no meio do século XV que a sua utilização fosse finalmente decisiva.
Nessa época, várias inovações tecnológicas foram introduzidas na artilharia – todas elas promovidas pelo Rei da França, Carlos VII (1403-1461). Entre elas, o transporte e o poder de fogo dos canhões. Os canhões de bronze eram muito mais leves e sucederam os anteriores de ferro forjado. Os conjuntos de canhões foram munidos de rodas que permitiam, não só o movimento mas também flexibilizavam apontar e mirar, para atirar. E mais ainda, os projéteis de pedra foram definitivamente substituídos por bolas de ferro que causavam sérias avarias nas alvenarias de pedra. As armas passaram então a poder violar as paredes mais finas e altas dos castelos.
Os progressos decisivos nas armas desempenharam importante papel para a França recuperar territórios que estavam em posse dos ingleses, acabando com a Guerra dos Cem Anos.
Pouco a pouco, as armas passaram a fazer disparos horizontais causando o ocaso das fortificações antigas. Várias transformações foram desenvolvidas na edificação. A face externa dos muros de alvenaria de pedra passou a ser intencionalmente mais inclinada (ou até curva), não só pelos anteriores motivos de estabilidade, mas também para desviar em ricocheteio, as balas que poderiam penetrar na parede quase vertical. O sepultamento do antigo modelo abriu possibilidades para que se instalasse armas acima do terreno circundante, que até então era varrida pelo fogo rasteiro.
Um fosso demarcador e delimitador passou a separar a fortificação do entorno e tornou então a aproximação mais difícil, retardando o deslocamento da artilharia mais leve e consequentemente minimizando as escaramuças junto ao muro.
Com a finalidade de fazer frente ao emprego da pólvora, que trouxe possibilidades de abrir brechas nas muralhas de alvenaria, passaram então a existir enormes plataformas. Estas novidades foram todas no forte espanhol Salses (1497, Languedoc Roussillon), intermediário entre o castelo medieval e a moderna fortificação com bastiões.
As ilustrações abaixo, foram extraídas do catálogo “Vauban – la fortesse idéale”, e dão ideia dos progressos arquitetônicos desenvolvidos pelo arquiteto francês, muito claramente auxiliados pelo Desenho Geométrico.
Os desenhos abaixo, referem-se ao projeto da cidadela de Neuf-Brisack, Projeto de Vauban na Alsácia (leste da França-oeste da Alemanha), 1698. O segundo já propõe um acréscimo, próximo ao canal de navegação.
Em Portugal, Manoel de Azevedo Fortes escreveu “O Engenheiro Portuguez” em 1728/29 o similar lusitano (abaixo), baseando-se em Vauban e em outro autor e arquiteto, Blaise François – o Conde de Pagan.
Este novo personagem, o Conde de Pagan, nascido Blaise François em 1604 e falecido em 1665, foi um dos mais respeitados escritores da Arquitetura Militar na França; apresentou novas propostas para as fortificações para a Escola Francesa. Sua vida foi fascinante e dramática. Perdeu os dois olhos em combates, dedicou-se aos estudos, já cego.
O seu famoso tratado de fortificações (1645) é um texto obrigatório para os estudiosos da história das fortificações. Trata-se de um livro para quem já conhece o básico dos sistemas fortificados, que teve diversas reedições e tradução para outras línguas.
A foto aérea abaixo (de domínio público), da cidadela de Almeida, no nordeste de Portugal, quase fronteira com a Espanha.
Mais uma vez, os excelentes desenhos corroboram as utilizações do Desenho Geométrico e da Geometria Descritiva na Poliorcética.
As pesquisas contemporâneas do orientador do Grupo de Pesquisas trouxeram alguns elementos arquitetônicos que são comuns em Fortes e Fortalezas, apesar da qualidade do desenho apresentamos:
Um dos documentos mais louváveis que encontramos é o projeto do Forte de Olinda. Pode-se ler em sua legenda: “Planta do Forte Real qve manda Fazer Mathias de Albvqverqve Pera segurança de Porto De pernaobuco e dezembro De seis sentos E vinte e nove annos feito pelo arquiteto Cristovaõ Alvares.“
Abaixo: “Perfil do Forte Real, que mostra o interior E altura onde chegua a mare, E o modo do fundamto com que se deve proseder pa que fique seguro, E o modo Como se ande fecharas abovedas destes aloyamtos Como severá asertado este nº 6. Com a planta Cristovaõ Alvares.”
E ainda: petipé de 150 palmos
Este é o primeiro forte referido nos documentos de Recife. Na Europa já corriam rumores da invasão holandesa que finalmente ocorreu em 1630, sem que o projeto fosse executado.