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A Geometria presta muitos serviços à Arquitetura – Desenho de Jean Baptiste Bonnart, gravado por Nicolas Antoine Herisset – Séc.XVIII (frase do Livro I, Cap. I de “Os Dez Livros de Arquitetura“, Vitruvius., I aC.)
Esta sítio analisa historiograficamente o milenar “modus faciendi” da Arquitetura, trazido e utilizado no Brasil pelos povos colonizadores. Trata-se portanto, de uma narrativa do registro histórico de uma técnica arquitetônica que examina monumentos representativos da arquitetura na América Portuguesa, testemunhos do desenvolvimento que aqui atingiram conhecimento, arte, ciência e técnica. Tais processos foram bem sucedidos, ainda que transplantados da Europa, ambientados com materiais nativos e adaptados com soluções locais para solver as questões da edificação.
Segundo Lúcio Costa, em seu livro “Arquitetura”, a pesquisa dos processos científicos e tecnológicos, para fins de estudo, inclui uma processologia da Arquitetura produzida no país que analise e interrelacione:
– Os Programas arquitetônicos: quais as condições do meio físico e social que propiciaram o surgimento da arquitetura;
– As Técnicas utilizadas: o conjunto de processos de uma arte: Maneira, forma ou habilidade especial de executar ou fazer algo;
– Os Partidos: as maneiras pelas quais foram traduzidas em Arquitetura as imposições relacionadas no programa e executadas em determinada técnica;
– A Modenatura: as qualidades plásticas do monumento arquitetônico.
O assunto da conferência insere-se dentre as diversas Técnicas da Arquitetura no Brasil.
O termo “Estereotomia”, enquanto parte da História das Arquiteturas, pretende revalorizar uma área do conhecimento humano, que sob a nossa ótica está situada na região fronteiriça entre três campos historiográficos: a História das Técnicas, a Histórias das Artes e a História das Arquiteturas.
A região comum aos três campos é pouco conhecida, caminhando para um processo de esquecimento. Um fenômeno curioso e autofágico vem transformando o conhecimento, gerado e acumulado pelos arquitetos, em áreas cada vez mais obscurecidas, afastadas em planos secundários, que podem acabar relegadas em desqualificação como um conhecimento descartável, de pouca serventia.
Os “saberes” vão se substituindo; os novos vão ganhando importância – outros antigos vão perdendo prestígio e aquela área limítrofe, comum a todas as Histórias, tende a tornar-se uma área quase morta para os perspicazes historiadores contemporâneos, sejam das Arquiteturas, das Artes ou das Ciências e das Técnicas.
Estereotomia deriva do grego “stereos” (sólido) e de “Tomé” (seção). A Estereotomia portanto planeja, examina e prevê com precisão e subdivisão do conjunto arquitetônico (o “todo-unitário”).
Uma vez justapostos no local que lhes esteja destinado na edificação, cada parte deve corresponder com resistência e estabilidade, assim como restituir e constituir a forma integral final da edificação planejada.
Do italiano “architectonica” deriva o termo arquitetônica, que tem por interpretação: archi (arco) e tectônica (estruturação).
Os termos remetem a uma percepção do vocábulo em português como “conjunto de princípios capazes de estabilizar um arco de pedras empilhadas, estruturadas”.
Geometria Descritiva: um auxílio à Estereotomia
A Geometria Descritiva sistematizada por Gaspard Monge, no final do século XVIII, ajudou muito à Estereotomia Arquitetônica e vice-versa. Desde que o homem resolveu planejar antes de construir, raramente houvera a capacidade de prever, medir e antecipar-se à arquitetura através de representação inequívoca de seu raciocínio espacial. A revelação propiciada pela Geometria Descritiva antecipa a compreensão de complexidade de volumes, das composições e das interseções entre sólidos diversos ou ainda entre cheios e vazios tridimensionais que compõem os espaços arquitetônicos.
A metodologia das projeções ortogonais, os métodos descritivos, as determinações das verdadeiras grandezas, as interseções entre sólidos, as gerações de superfícies e de volumes (tanto quanto a sistemática das projeções cônicas), possibilitaram aos arquitetos um notório instrumental, sem precedentes nas Histórias das Arquitetura, das Artes, das Ciências e das Técnicas ou da Humanidade.
Na propedêutica é utilizada com frequência, como linguagem gráfica e ferramenta de expressões, a bicentenária metodologia de representação, aliada inequívoca dos arquitetos, Geometria Descritiva.
Dentre os ilustres matemáticos e arquitetos que se empenharam na Estereotomia, mesmo antes de Monge, encontram-se: Phillipe La Hire (1640-1718), Amédée François Frézier (1682-1773), Charles-F-A-Leroy (1780-1854) e Eugène Rouche (1832-1910).
Estereotomia aplicada
A estereotomia aplicada deverá se prestar ao planejamento das partes de uma arquitetura, de maneira que cada uma delas tenha dimensões propícias para manipulação e, sobretudo, apresentem as características formais adequadas para o travamento estável, tanto do conjunto, quanto de cada uma das suas partes.
O fracionamento, ou o despeçamento, de um “conjunto arquitetônico” é o planejamento de arquitetura primordial que antecede e orienta a lavra da matéria bruta (pedra), objetivando a posterior montagem do objeto arquitetônico. Ou seja, o todo pretendido é particionado planejadamente para que sejam lavradas ou esculpidas as partes que, uma vez agregadas, venham a compor, no espaço e no tempo, o edifício.
São sinônimos, os seguintes termos: desmontar, fracionar, particionar, despeçar e decupar.
O “processo do pensamento projetual” em estereotomia abrange:
Primeiramente, o fracionamento mental do conjunto a ser edificado, que considera o material e a disposição das superfícies e faces que limitam cada um dos blocos nos quais se decomponha o conjunto, para que se obtenham dimensões e formas convenientes. Nesta fase deve-se considerar a magnitude, a direção e o sentido de todos os esforços que possam atuar sobre o conjunto a ser edificado, considerando a qualidade e as condições dos materiais que compõem a carga.
Em segundo lugar, o projeto estereotômico exige a representação, de modo claro e preciso, de todas as faces e superfícies do bloco determinando-se as “Verdadeiras Grandezas”. Isto é feito através da aplicação, simples ou combinada, dos métodos da Geometria Descritiva: Mudanças de Planos de Projeção, Rotações dos Objetos e Rebatimentos. Deste modo, forma e dimensões estarão previamente determinados e estabelecidos.
Por último, a estereotomia busca a economia destinando materiais e regras de tratamento destes materiais às formas estabelecidas no fracionamento.
Conhecimentos satisfatórios para a percepção da Estereotomia:
– Funções dos coruchéus, contrafortes e arcos botantes.
– Ombreiras e dintéis monolíticos e suas fragilidades.
– Arcos projetados ou em pedra salientes.
– Forças atuantes em um arco.
– Cimbres, cambotas, andaimes e fôrmas.
– Instalações e remoções dos cimbres.
– Arcos concêntricos à românico e capialçados.