- Colonia del Sacramento (adaptação e revisão de texto, de Lais dos Santos Jasmim).
Às margens do Rio da Prata e a distando aproximadamente 50 km (por barco) de Buenos Aires, está Colônia del Sacramento, o posto lusitano mais ao sul das Américas fundada pelo português Manoel Lobo, em fins do século XVII.
Durante quase cem anos, a Colônia foi motivo das desavenças entre espanhóis (na Argentina) e os portugueses (do Brasil). Encravada entre o Prata e a região da Campanha Gaúcha, a Colônia del Sacramento sofreu muitos litígios cerca de 5 cercos três reconstruções, trocando de colonizadores entre 1680 e 1777.
Colônia Del Sacramento – Notícia Histórica.
No século XVII, em 22 de Janeiro de 1680, foi constituída a Colônia do Sacramento por Dom Manuel Lobo (1635-1683), então governador do Rio de Janeiro. A Colônia foi estabelecida por uma expedição portuguesa, por designio do Príncipe de Portugal Pedro II, com interesse em estender as fronteiras da colônia americana e como ponto estratégico de defesa e comercial da região.
Em pouco tempo, o governo espanhol sob ordem de Dom José Garro, invadiu e tomou posse da fortaleza. No dia 07 de maio de 1681 foi assinado o Tratado de Lisboa (ou Tratado Provisional de Lisboa) entre Portugal e Espanha, através do qual o governo espanhol aceitou o domínio português da Colônia. Porém, em 1704, foi novamente golpeada pelos espanhóis, sendo ocupada, sob o controle de Afonso Valdez, em 1705. O Tratado de Utrech, firmado em 6 de Fevereiro de 1715, foi responsável por dois acordos que colocaram um fim a Guerra de Sucessão Espanhola e redefiniram parte da divisão geográfica da Europa e das Américas. Retornando assim, a Colônia ao poder português. Ainda em 1715, Manuel Gómez Barboza assumiu o governo até 1722. Consoante um levantamento estatístico feito em 1718, havia cerca de 1.040 habitantes no local, levantamento este que abrangia escravos e indígenas.
No dia 14 de Março de 1722, o governador Antonio Pedro de Vasconcellos assumiu o poder, sendo incumbido pelo avanço material, comercial e cultural da Colônia. Em 1735 a cidade foi cercada por forças espanholas tendo como pretexto um incidente diplomático em Madri, o governador Vasconcellos declarou estado de sítio. A Colônia permaneceu rodeada por espanhóis até 1737, comandados por Dom Miguel de Salcedo. A Colônia foi novamente invadida por tropas espanholas, lideradas pelo General Pedro de Cevallos, em 1762, após o início da Guerra dos Sete Anos.
Com o Tratado de Paris (entre Grã Bretanha, França, Portugal e Espanha), responsável por finalizar a Guerra dos Sete Anos, em 1763, Portugal retornou ao poder da Colônia. Em 1777, Pedro de Cevallos voltou a atacar e destruiu boa parte das fortificações da Colônia. No primeiro dia de Outubro de 1777 foi assinado o Tratado de Santo Ildefonso com o objetivo de encerrar a disputa entre Portugal e Espanha pela propriedade da Colônia. Neste, Portugal admitiu os direitos dos espanhóis sobre a região, restabelecendo a divisão no mapa do Tratado de Madri.
Em 05 de Março de 1807 os ingleses apropriam-se da Colônia, porém em 1822 ela retornou às mãos portuguesas sendo incorporada ao império brasileiro. A região foi novamente invadida em 1826, quando foi bombardeada pela tropa argentina sob ordem do Almirante Guillermo Brown. Em 02 de Dezembro de 1828, a Convenção Preliminar de Paz entregou a Colônia aos uruguaios.
Esta convenção, também denominada Tratado do Rio de Janeiro, foi um acordo entre as Províncias Unidas do Rio da Prata e o Império do Brasil, assinado em 27 de agosto de 1828; por este acordo ficou estabelecida a independência da República Oriental do Uruguai. Este tratado (assinado ao final da Convenção Preliminar de Paz), ocorreu no Rio de Janeiro (sob a mediação inglesa) e pôs fim às guerras cisplatinas. Assim, Brasil e Argentina acataram a criação de um país independente: o Uruguai. Mais além, pelo tratado, devolveu-se a posse da a região das Missões Jesuíticas (que esteve sitiada por tropas platinas durante a guerra) ao Brasil, denominando-se então a “Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul. No dia seguinte, foi firmado o Tratado de Montevidéu, validado a 4 de outubro pelos mesmos dois países; assim ficou reconhecida a independência do Uruguai.
Em 1845, Giuseppe Garibaldi invadiu a Colônia e a ilha Martín Garcia durante a chamada Guerra Grande (designação da Guerra Civil do Uruguai; foram batalhas de enfrentamento ocorrido no Uruguai de 1839 a 1851, entre os Colorados (pintura de Juan Manuel Blanes) e Brancos (partidos antagônicos).
Foram mais de 100 anos de enfrentamento principalmente entre portugueses e espanhóis. O ponto privilegiado de defesa da fronteira sul da América Portuguesa e o caráter comercial, que facilitava trocas mercantis com as coroas ibéricas, responsável inclusive por tráfico de escravos e contrabando, colocou Colônia em um contexto de disputas entre muitas potências.
A Colônia Del Sacramento foi tombada como Patrimônio da Humanidade em 1985 pela UNESCO. A disputa pelo local proporcionou na cidade uma mistura de diferentes culturas e estilos arquitetônicos – por vezes lusitana e por outro lado algo hispânica. Atualmente a antiga cidadezinha é um bairro histórico de suma importância da homônima e moderna cidade, a atual Colônia del Sacramento no sudoeste do Uruguai.
A Estereotomia está presente em vários locais de Colônia. Como se pode compreender analisando os Mapas, a Cidadela se situava em um Cabo, era fechada por uma muralha de pedra esta voltada para conter os avanços por terra. Pela água, talvez pela lentidão que o meio líquido impõe, os sistemas de defesa eram outros e poderiam contar até com a instabilidade do leito do Rio.
A muralha portanto era composta de uma alta cortina, com um vão geralmente centralizado. Especula-se que fosse, esta muralha a primeira de quatro que poderiam compor futuramente a um forte poligonal.
Em Colônia del Sacramento, cercavam o vão central, dois tímidos Baluartes, como se pode notar no mapa acima.
De uma forma geral o canjicado, ou seja, a técnica de agrupamento com pedras irregulares era adotada, sempre exibindo uma face muito bem aparelhada, para evitar possíveis escaladas.
O Pórtico da Cidadela de Colônia Do Sacramento:
Instaurado em 1745, o Portal da Cidadela, também conhecido como Porta do Campo, se situa em frente à chamada “Plaza 1881“. Foi construído durante o governo do Antônio Pedro de Vasconcellos (1722-1749), período em que comércio e o contrabando impulsionaram grandiosamente o desenvolvimento da cidade e como consequência o local precisou de certa proteção por chamar ainda mais a atenção. Convém salientar que a muralha era uma defesa contra ataque que pudessem ser originados e encaminhados por terra.
O Pórtico é constituído de por esteios de pedra lavrada, divididos em uma estereotomia simples mas muito bem executada. São duas pilastras fortes que sustentam um frontão. Os muros eram de pedra assentada em barro com mistura de faxina (feixe de ramos, gravetos e assemelhados, com o qual se entopem frestas das cortinas das fortalezas; também se usava muito estrume vacum, para a mesma finalidade) e agregado de cal para serem mais resistentes.
A muralha ia de uma margem à outra e era cercada por uma fossa seca. Ao entrar no Pórtico havia um corredor que direcionava ao calabouço e a uma sala da guarda. Houve uma edificação com telhado de uma água na parte interna da muralha que compunha os quartéis. Sobre a face interna muralha encontrava-se uma rampa que era utilizada para passar as peças de artilharia caso na iminência de ataque. A ponte levadiça era a única forma de acesso a Colônia e a muralha foi cada vez mais reforçada.
Dessa forma a cidade ficou com uma boa defesa de ataques por terra. O portal e a ponte sobre a fossa, o forte, os pilares de pedra e os outros pavimentos que ali foram construídos, formaram um relevante centro de interesse histórico, sendo a cidadela uma das principais relíquias da cidade.
A muralha foi derrubada em 1859, sob ordem do Presidente Gabriel Pereira, para possibilitar um melhor crescimento de Colônia do Sacramento. As pedras foram usadas para preencher a fossa.
Hoje, o escudo português original (dos célebres sete castelos contendo ao centro cinco escudos com cinco besantes brancos em forma de cruz) que se encontrava no frontão do pórtico está no Museu Português da Colônia.
A muralha que protegia a entrada por terra faz coroamento ao chamado Bastião de São Miguel, local onde portugueses projetaram um posto militar, finalizando a península com uma grande (mas intermitente) linha defensiva de muralhas.
A Igreja Matriz (adaptado por Victória Donald):
A Igreja Matriz, comumente tratada como um “rancho com sino”, foi fundada no ano de 1680; a data de 02 de Fevereiro, marca o levantamento da igreja primitiva feita de palha e adobe.
Em 1683, devido ao “Tratado Provisório”, Colônia foi devolvida aos portugueses e a igreja permaneceu como um rancho de adobe e palha até 1699, quando o Governador Sebastián del Veiga Cabral, emite a ordem de construí-la de pedra e cal. Em consequência de ataques a igreja foi vítima de diversas destruições parciais (assim como a casa do Governador Salcedo). Essas destruições foram restauradas e feito um transepto em forma de cruz latina por Vasconcellos, até que Pedro de Cevallos sitiou Colônia e ordenou novas obras em 1777, para reparos aos estragos acusados pelos bombardeios.
O local se encontrava em ruínas novamente e passou a ser utilizado apenas como paróquia, a Capela da Ordem Terceira de São Francisco. Contudo, a paróquia foi transferida para outro local, a Capela de Santa Rita, por não haver um templo. A ermida mesmo, só foi inaugurada em 1810.
Novamente, o local se encontrou acidentado, desta vez, pela queda de um raio que acertou o templo em 1823, arrasando a sacristia, e destruindo o altar mor. Tudo terminou em uma explosão devido ao paiol português abaixo da sacristia, onde munições eram guardadas, na época de dominação Cisplatina. A explosão acabou com a reconstrução do eminente arquiteto espanhol Dom Tomás Turíbio.
Em 1841 e 1967 foram reconstituídas as partes mais prejudicadas, deixando à vista tudo o que era original. Foi recoberta com mármore a parede do altar na qual, meio metro atrás se encontra a original, achado de uma das restaurações.
No seu redor havia um cemitério que teve restos extraídos durante a época de restauração. Em escavações recentes, aparecem na aba esquerda do templo ruínas de cimento do que um dia fora a “Casa dos Governadores”, que junto à igreja eram as principais edificações da cidade.
No seu interior se encontram dois túmulos, um do vigário Domingo Roma e o outro o do padre Barredo, que exerceu seu sacerdócio ali por quarenta anos.
Além do cálice de ferro fundido, situado atualmente sobre o altar (estandarte na fachada externa da igreja em 1841), ainda se conserva a pia batismal de água benta, que pertenceu a uma das primeiras capelas, por volta de 1700; também um crucifixo talhado pelos índios das missões jesuíticas e um altar espanhol de madeira se encontram ainda no local.
Ornam delicadamente o templo a figura de São Francisco de Assis, um sacrário missioneiro luso-brasileiro de jacarandá e um trono do século XIX. Na parede lateral aprecia-se os diversos estilos de construções, das paredes de pedra de estética portuguesa às de tijolos de estética espanhola.
A igreja Matriz do Santíssimo Sacramento é a mais antiga igreja do Uruguai e as diversas restaurações permitiram que o templo exiba em toda sua majestosa grandeza, a espiritualidade em que se destaca uma estética bem definida.
O Convento
(Victória Donald)
Outro local religioso, Convento São Francisco Xavier (cujas ruínas foram localizadas em 1978) foi construído entre 1683 e 1704, fazem parte do testemunho mais antigo da história uruguaia. Pertencia ao Convento dos Terciários Franciscanos – nome que homenageia São Francisco Xavier, santo considerado pela santa sede “O Patrão das Empresas Missioneiras”.
Documentos da época revelam que a capela permaneceu íntegra até novembro de 1793, quando um incêndio a aniquilou por completo. Do desastre, salvaram-se apenas algumas telas e ornamentos que foram levados para uma capela antiga, denominada de “Carmo e Santa Rita”. Muitas das imagens que se achavam no convento estão em outros lugares; algumas inclusive se encontram na igreja do Santíssimo Sacramento. A capela de São Bento também recebeu parcela de patrimônio e considerando-se esse fato especula-se que a imagem deste santo também pertenceu ao convento.
Habitado por monges jesuítas e franciscanos, o convento fazia parte da Missão para evangelizar índios tapes e charruas. Como na grande maioria dos conventos e missões, São Francisco Xavier de Colônia do Sacramento também possuiu cemitério anexo.